No antigo Japão, século XV,
conhecido como período SENGOKU-JIDAI, grandes confrontos foram travados nas
disputas pelo poder e terras onde exércitos formados por guerreiros SAMURAIs
(aquele que serve - 侍), se enfrentavam em sangrentas batalhas.
As famílias SAMURAIs
sistematizaram suas técnicas de combate e as dividiram em conjuntos de
disciplinas que eram transmitidas dentro dos clãs guerreiros. Somente um BUSHI
(guerreiro - 武士 ) podia treinar estas técnicas.
Primeiramente aprendiam técnicas
de golpear e defender-se. A eficiência era o principal objetivo. Posteriormente
aprendiam a desenvolver o coração, ou seja, icluir à técnica: estratégia, o uso
correto das emoções e intuição.
Surge então o BUJUTSU - 武術,
todo o tipo de treinamento técnico que busca a efetividade em confrontos de
guerra. Sejam treinamentos armados, desarmados, de estratégias, desenvolvimento
corporal e mental com o objetivo de “acertar” o adversário.
Nos períodos hostís foram
desenvolvidos hábitos, etiquetas e formas respeitosas no lidar entre as pessoas
e principalmente entre os SAMURAIs exaltando a hierarquia. Qualquer mau
entendido poderia gerar um confronto e culminar em morte. Entre os SAMURAIs foi
desenvolvido um código de conduta ética e modo de vida conhecido como BUSHIDO -
武士道
. Este código de ética tinha, para os guerreiros, mais força que as próprias
leis do Japão. Ele era transmitido oralmente e todos os clãs de SAMURAIs o
seguiam. Para eles, era uma forma de viver e morrer com honra.
Os princípios do BUSHIDO eram :
• GI (justiça e moralidade / razão
correta / retidão – 義 )
• YUU (coragem / bravura heroica
– 勇 )
• JIN (benevolência / compaixão
– 仁 )
• REI (respeito / cortesia /
amabilidade / polidez / gentileza – 礼
)
• MAKOTO (honestidade / sinceridade
/veracidade total – 誠 )
• MEYO (honra / glória – 誉
)
• CHUU (dever / lealdade – 忠
)
• NINTAI (caráter e auto-controle
- 忍耐 )
No período TOKUGAWA, século XVII,
iniciou-se a época de paz e os guerreiros SAMURAIs já não tinham mais a
serventia habitual dos períodos de guerra. Os SAMURAIs foram forçados a
encontrar uma nova aplicação de seus conhecimentos que até então eram voltados
para as batalhas e, influenciados pelas principais religiões locais (Budismo,
Xintoismo e Confuncionismo), mudaram o foco para a guerra interior, a evolução
da personalidade para se tornarem pessoas melhores e influenciarem seu entorno
buscando um mundo melhor. De acordo com o ZEN Budista uma pessoa percorre um
longo caminho de evolução pessoal que dura a vida toda. O importante não é o
foco final e sim o caminho que se trilha para chegar a ele. A este “caminho”,
se dá o nome DÔ - 道.
As artes de combate militar já
não eram mais exclusividade das famílias SAMURAIs. Com a abertura dos DOJOs
(espaços de treinamento - 道場 ) para o público interessado, os
SENSEIs ( professores - 先生
) transmitiram seus conhecimentos de guerra enfocando a busca pela evolução da
personalidade usando as técnicas e situações praticadas nos DOJOs como
metáforas para melhor compreensão de seus alunos sobre o que realmente
importava, a filosofia BUDO NO KISO
- 武道の基礎 , filosofia marcial que deveria transpor os
limites dos DOJOs sendo praticada na vida cotidiana por seus alunos.
Por meio do treinamento o
indivíduo aprende a ter disciplina, capacidade de superação e, ao mesmo tempo,
desenvolve atitudes de respeito, cortesia, humildade e auto-controle.
Este modelo de aprendizado de
filosofia de vida através das artes marciais passou a se chamar BUDO - 武道.
O Budo foi introduzido para ser o
caminho espiritual que guiasse o praticante de artes marciais a atingir sua
iluminação. Este conceito de iluminação vem do Zen Budismo que consiste em
transcender o ego, eliminar os preconceitos e ilusões criadas pela mente humana
apegada aos prazeres mundanos.
A expressão BUDO significa
“caminho da guerra” ou “caminho marcial”. É escrita através da união dos KANJIs
(caracteres da língua japonesa) : BU - 武 e DO - 道 , formando BUDO -武道
Na tradução ocidental do KANJI BU
temos o entendimento: Guerra. Mas o Kanji BU é formado por três KANJIs que dão
a ele uma importância filosófica fundamental para nosso entendimento sob o
ponto de vista oriental. São eles: ICHI ( um / primeiro - 一 ) ;TOMARU (parar - 止 ) ; YOKU (armas -弋 ).
Leríamos: ( Primeiro, parar as
armas ). Poderíamos interpretar que nossa guerra é a “não guerra”, que é a
“guerra da paz”, que temos “que parar com nossos conflitos”. E mais
profundamente poderíamos também dizer que temos que “parar a nossa guerra
interior, nossos conflitos pessoais”.
Ao interpretar o termo BUDO,
poderíamos dizer que é o “caminho da não guerra”, “caminho do não conflito”,
“caminho da paz”. É a busca constante
pela paz. Pela paz do mundo e pela paz interna.
BUDO está ligado à mitologia
japonesa do duende KAPPA - 河童
, que podia assumir a posição de ataque e defesa ao mesmo tempo, mantendo uma
postura natural e descontraída.
Podemos compreender melhor o BUDO
através de uma visão tridimensional onde o aprimoramento constante físico,
mental e espiritual fazem parte de um todo. Não se deve separá-los durante a
busca pela evolução. A prática constante de princípios que nos ajudam a tornar
um ser humano melhor, após se transformarem em hábitos involuntários e flúidos,
passam a ser virtudes que nos guiarão a fazermos as melhores escolhas durante
as ocorrências da vida e criarmos uma personalidade de bom caráter, moral,
ética e de atitudes corretas.
O BUDO como ferramenta social, além da inclusão de toda e
qualquer pessoa, independentemente de raça, idade, sexo ou mesmo habilidade,
traz com a prática a melhora da autoestima, do espírito de companheirismo e
trabalho em equipe, o respeito ao próximo e a valorização moral na busca por
formar um cidadão melhor e útil para a sociedade.
Ass. por: Kilder Giovanni
Ass. por: Kilder Giovanni